Maurício Munhoz Ferraz, 44, é um pau-rodado que há duas décadas ganha a vida em Mato Grosso. O sujeito é inteligente, boa praça, bem preparado e apesar da voz gutural devido ao acanhamento de bicho-do-mato consegue se expressar com propriedade sobre política e economia mato grossense tendo mesmo escrito alguma coisa sobre o tema das riquezas e das pobrezas em terras de Rondon, ou terras de Filinto Muller como quereriam alguns.
O que o pau-rodado paulista e interiorano mato grossense Maurício Munhoz veio “tcherá por aqui”, como diriam os cuiabanos?
Sendo um dos filhos de Francisco e também um "Filho da PUC" pensou ser economista em Deutschland. Mas em terras tedescas percebeu que sua invisibilidade de latino-americano e os conseqüentes esbarrões o levariam tão longe quanto a cara no chão. Acabou retornando à Piracicaba e tal qual um antigo bandeirante rumou à Oeste, na altura do "Massacre do Paralelo 11", chegando em Juina. Ao contrário dos antigos preadores de índios e catadores de ouro que varavam os sertões descalços eis que o modernoso paulista veio montado num cargo público chamado "agente de administração fazendária".
Sendo um dos filhos de Francisco e também um "Filho da PUC" pensou ser economista em Deutschland. Mas em terras tedescas percebeu que sua invisibilidade de latino-americano e os conseqüentes esbarrões o levariam tão longe quanto a cara no chão. Acabou retornando à Piracicaba e tal qual um antigo bandeirante rumou à Oeste, na altura do "Massacre do Paralelo 11", chegando em Juina. Ao contrário dos antigos preadores de índios e catadores de ouro que varavam os sertões descalços eis que o modernoso paulista veio montado num cargo público chamado "agente de administração fazendária".
A idéia era boa. O concurso da Secretaria da Fazenda tratava da remuneração de R$400,00 para a antiga função dos exatores ou coletores de impostos estaduais cujos agentes envelheceram e retornaram para Cuiabá deixando vagos seus postos no Interior. Dado a história do apego dos cuiabanos por empregos públicos e o entrelaçamento social-familiar entre o funcionalismo e a instância político-administrativo era óbvio que trocar o nome e pagar mal a um cargo importante da Fazenda era apenas um engenho para afastar os paus-rodados dos ambicionados cargos públicos.
No entanto, o salário dos novos exatores esteve congelado por quase uma década, e alguns apontam como motivo tão somente o excesso de paus-rodados aprovadas no concurso posto que os “nativos”, ou cuiabanos, mesmo com uma segunda reclassificação da pontuação dando nota maior aqueles já empregados em cargos públicos, não obtiveram êxito.
Na expectativa das coisas se arranjarem o moço urbano Maurício Munhoz fez a mudança para Juina cidade arrodeada pelos temíveis índios Cinta-Largas e encoberta pela floresta amazônica. Em pouco tempo se indispôs com os atravessadores de diamantes que lhe mandaram o gracioso recado de que derreteriam estanho na sua testa se continuasse com a moagem de querer cobrar impostos sobre coisas à toa. Acabou sendo indicado como conselheiro político-econômico do jovem prefeito, recém-eleito e, fato raro em Mato Grosso, petista, que o nomeou chefe das finanças de Juina.
O trabalho na prefeitura corria bem, implantaram o orçamento participativo, elevaram a arrecadação de tributos municipais e, novamente tropeçou ao sistematizar o pagamento dos credores que exigiam furar a fila simplesmente porque eram primos do compadre do vizinho do prefeito. O ônus do desgaste coube ao secretário de fala rouca, de muitos números na cabeça e pouco tato com os super-micro-empresários da cidade. Apesar dos percalços, da pressão exigindo a sua cabeça continuou na prefeitura até que os valores dos repasses estaduais sofreram queda abrupta.
Assim com peso dos gastos municipais sobre as costas o incauto secretario das finanças de um modesto município dos cafundós de Mato Grosso denunciou em Cuiabá um esquema milionário envolvendo as madeireiras da região. Nem precisava. O bravateiro coronel Lepesteur havia se apresentado para derrubar a casa da máfia dos madeireiros desde que o governo o nomeasse assessor junto à Fazenda. O coronel foi nomeado para outro cargo, decorativo segundo ele, que retornou injuriado aos quartéis da PM.
Ao mesmo tempo, Cuiabá em rápida investigação deu resposta às denúncias de Maurício Munhoz. O jovem secretário de finanças acabou demitido a bem do serviço público devido ao crime de acúmulo ilegal de cargos porque se demorou alguns meses para se desincompatibilizar do cargo de exator-chefe quando assumiu a pasta municipal de finanças.
A fama de corrupto campeou na região. Atônico inicialmente, deprimido depois, acabou trocando Juina por Cuiabá para se defender e, conseguiu limpar seu nome e ser reintegrado ao quadro da Fazenda Estadual. Mas desgostoso, pediu demissão do cargo da Fazenda e se apresentou à Assembleia Legislativa onde trabalhou como assessor da presidência. Na Assembleia se tornou o "ghost writer of the economy" do poderoso deputado José Geraldo Riva. Acabaram ganhando o disputado prêmio de US$100mil de empreendedor do ano do Banco da Amazônia das mãos de Fritjop Capra.
O tempo passou, Maurício Munhoz se tornou Sociólogo pela UFMT, montou empresa de pesquisa de opinião e virou palpiteiro diplomado das campanhas políticas mato grossense. Tocava a vida mansamente até que foi acometido pelo vírus cubanus e febril escreveu um artigo mal falando de um ícone da cuiabania chamado Filinto Strubing Muller para quem era um sujeito de maus bofes que entregara Olga Benário Prestes à câmara de gás nazista e, portanto, não merecedor de nomear prédios públicos como o da antiga Assembleia Legislativa.
O artigo contra Filinto Muller agitou tepidamente alguns dos "nativos", a chamada cuiabania, ou elite cuiabana, que se considera grata ao sombrio agente militar do "golpe de 37" e do "golpe de 64", que também era acusado de desertar da “Coluna Prestes” afanando armas e dinheiro para se mocozar na Argentina. O que não era assunto novo porque o jornalista Domingos Meirelles dizia a mesma coisa no excelente livro “As noites das grandes fogueiras – uma história da coluna prestes”.
Desafortunadamente, antigas denúncias contra o ex-chefe de finanças do governo petista de Juina foram reavivadas quando se acreditava que não iriam vingar e, com a habitual velocidade da Justiça, os processos ou continuam em suas entranhas ou foram considerados improcedentes e arquivados. Alguns sempre dizem para não mexer com assuntos sagrados, mas a iconoclastia rendeu o nome do democrata cuiabano “Dante de Oliveira” ao novo prédio da Assembleia Legislativa.
Agora, quando tudo está aquietado e Maurício Munhoz toca a vida com a tranqüilidade de um cidadão de classe média empanturrado com carnês de crédito e com a tenaz ansiedade persecutória sob controle após anos de lapada no ego já antegoza com o que considera uma boa idéia, a lembrança do seu nome para candidato a vereador de Cuiabá.
2 comentários:
_
Uma historia bem contada. Eu nao conhecia o blog e entrei porque o mauricio me falou. Portanto, apesar da suspeicao por conhece-lo, digo que faltou dizer mais sobre o que ele escreve sobre economia e sociedade.para mim ele eh o unico pensador original sobre esses temas.mas ainda assim, parabens pelo blog. Eduardo krahembul. Cuiaba
Também conheço o Maurício e acho que ele é o sujeito que melhor compreende a economia de Mato Grosso. Há muitos anos ele vem nos mostrando o quanto de colonia ainda somos.
Postar um comentário