O diabo é que surgiu em 2002 o negócio dos empréstimos facilitados para a turma do holerite. Mato Grosso emprega quase 100.000 servidores e gasta mensalmente quase R$250milhões com a Folha de Pagamento. De olho nesse mercado 34 bancos se colocaram à disposição, e,para facilitar as coisas, colocaram quase 200 “pastinhas” para fazerem os contatos pessoais.
No caso, o “pastinha” é um quebra-galho que poderia ser chamado de “corretor de crédito”, “captador de financeira” ou simplesmente “despachante”, mas como normalmente é um barnabé que andava com uma pasta debaixo do braço procurando os colegas no sufoco se tornou apenas “pastinha”, aquele que ganha pouco do estado e complementa “o leitinho das crianças” com a comissão de 2-5% a cada empréstimo efetivado.
Quando mais ágeis fossem mais ganhavam as comissões e, ganhavam tempo e clientelas cativas se soubessem a quem procurar, ou seja, acessaram o banco de dados do estado e localizaram aqueles que enfiaram o pé na jaca para enfiarem um pouco mais. Alguns servidores foram tão assediados com a facilidade de apenas assinar as autorizações de desconto em folha que chegaram a comprometer o salário em 90%.
Essa anarquia não poderia durar, o estado não poderia perder o controle dessa situação, mesmo porque as anteninhas de vinil do De Vitto rapidamente detectaram o problema após o grito do “e agora, quem poderá nos defender” emitidos pelas quase mil vozes de preocupados correspondentes bancários em Mato Grosso. Era necessário restaurar o controle da capacidade de endividamento dos servidores públicos, da chamada “margem consignável”.
Em 2008 Geraldinho De Vitto suspendeu por três meses esse negócio de empréstimos a servidores públicos enquanto pensava na situação. O problema principal era a falta de um programa de computador que barrasse os empréstimos excessivos e mantivesse a “margem negociável” do funcionalismo. Sem isso o servidor público que recebesse o salário de R$1mil poderia emprestar R$10mil de cada um dos 34 bancos.
A prestigiada empresa estatal de desenvolvimento de software chamada CEPROMAT estava embalada no sucesso nacional de alguns programas e se apresentou, mas foi recusada porque se precisava de empresa mais ágil para desenvolver o software da margem consignável. Dizem que o sindicato dos bancos ofereceu gratuitamente tal software, mas a oferta foi recusada para não dar margem a suspeitas.
Geraldinho fez melhor, abriu uma licitação pública para resolver o problema. A empresa que vencesse iria administrar a margem consignável gratuitamente para o estado, ou seja, a dor-de-cabeça seria da empresa que seria remunerada pelos bancos. Quem venceu o negócio foram dois jovens lojistas da “Feirão Goianio” de Ji-Paraná, Rondônia, chamados Willians Paulo e Elisangela Gabriele Spadore Mischur, ou melhor, a empresa Consignum – Programa de Controle e Gerenciamento de Margem Ltda.
Mas Geraldinho era danado nas artes das modernas práticas administrativas. Para resolver de vez com a bagunça, fez novo leilão e reduziu os 34 bancos que emprestavam na forma de consignação em folha de pagamento para apenas 06 bancos aptos (BGN, Cruzeiro do Sul, BMG, Safra, Rural e mais a Capemi).
Colocar uma empresa para fazer o trabalho da SAD e moralizar o negócio foi uma boa intenção ( boa mesmo, diria o diabinho da minha infância chamado Brazinha ). Servidores estavam sendo procurados com cópia de um holerite na mão e uma proposta de empréstimo preenchida na outra. A abordagem poderia ser feita tanto no trabalho quanto nas casas dos servidores.
O problema é que a base de dados circulava no mercado negro desde 2002 e começou a ser usada com sofreguidão por estelionatários em 2008. Então o secretário Geraldo De Vitto determinou com virilidade e baita macheza que todos fizessem um recadastramento em 2009. Era necessário anular os ataques do mercado negro cuiabano e, quem sabe, pegar algum “fantasma”?
Descobriu-se que a Folha de Mato Grosso estava livre de servidores-fantasmas. Descobriu-se também que os velhinhos servidores públicos parecem ter séculos. Duram que é uma barbaridade. Quando se começava a desconfiar que um estivesse morto eis que o bichinho aparecia todo roto e estropiado reclamando do recadastramento inoportuno ou da exigência dos comprovantes de endereço e, pior, que tirassem foto e fornecessem e-mails.
O ponto principal do recadastramento era barrar o acesso de estelionatários aos dados dos servidores e tranqüilizar o comércio mato grossense. O comprovante de renda, usado no comércio para estabecer o valor do limite das compras no crediário, por exemplo, deixaria de ser emitido através do site da SAD e passaria a ser encaminhado ao e-mail pessoal já cadastrado na nova base de dados do estado.
O problema é que os bancos têm os aposentados como seus principais clientes e velhos, como se sabe, ao mesmo tempo em que são “analfabetos digitais” emprestam dinheiro para toda a família. Além de tudo, velho é impaciente e preguiçoso, querendo tudo na mão. Importuná-los é perder dinheiro e clientes cativos.
Pensando melhor, ficou claro que todos ganhariam se nada mudasse e se acaso algum servidor tivesse seu nome usado indevidamente por estelionatários em golpes contra o comércio isso não seria problema, mesmo porque a moderna prática administrativa determina que todos tenham seguro. O cidadão comprou um carro? Tem que ter seguro. O cidadão abriu uma loja? Tem que ter seguro. O cidadão está vivo? Tem que ter seguro. O cidadão segurado morreu em latrocínio? Que bom, a família não terá a presença do estado mas terá o conforto do dinheiro.
Como diria o solidário, humano e cristão Geraldo De Vitto, o Júnior, ex- secretário de estado no uso das suas responsabilidades com o povo de Mato Grosso, pessoas são como peças de uma engrenagem econômica e peças, como máquinas, gastas, não servem para nada. Daí que troca-se a peça, os maquinários e até o secretário.
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