“É que eu quero evitar a fadiga” é o mote do carteiro Jaiminho de Tamangandapio, personagem da turma do Chavez, que manda os destinatários procurarem suas próprias cartas no malote ao invés de fazê-lo (para evitar a fadiga), e que tem outra característica do bom servidor público, é um simulador de trabalhador comprometido com o trabalho, andando para cima e para baixo empurrando a bicicleta dos correios porque não sabe usá-la, e se descobrirem será demitido.
O jaiminho é icônico, bem como todos os personagens do criador do Chavez. Mas em Cuiabá tivemos um carteiro parecido, conforme relata o historiador Rubens de Mendonça (de cujo título infelizmente eu esqueci há alguns anos):
Na época do Segundo Império o correio gastava trinta dias no trajeto Rio de Janeiro - Cuiabá, passando por Buenos Aires, e,quando chegava ao Porto cuiabano dava um tiro de canhão (e o quartel onde fica hoje o SESC Arsenal dava outro tiro, “repercutindo” a boa notícia). Então os interessados, letrados ou curiosos, iam até a sede do correio na Praça Ipiranga retirar as cartas e encomendas. Atualmente há no mesmo lugar uma agência dos Correios.
Nos anos de 1870 mais de 80% das pessoas eram analfabetas e, portanto, a clientela do correio estava potencialmente em quatro mil cuiabanos e, certamente nem todos eram consumidores vorazes das letras. De qualquer forma, centenas de pessoas se aglomeravam para pegar suas encomendas, jornais e cartas, diretamente no balcão do correio. No dia seguinte os dois carteiros da cidade se punham a procurar os destinatários dos seus serviços.
O nome de um dos carteiros o tempo comeu, quanto ao outro, seu apelido era “João Tenteia”.
Tentar não era o verbo do carteiro, ou tentiá, conforme diriam os caipiras. O nosso Carteiro Jaiminho se chamava João e era tão bonachão que o povo achava graça da sua lerdeza e diziam que seus pés tinham teias de aranha, daí o apelido “João Tenteia”. De modo que, se o correio levava 30 dias para trazer uma carta a três mil quilômetros de distancia, eis que o João levava outros 30 para entregá-la em mãos, e dizia sempre ladino,“chegou agorinha, tá fresquinho”, mesmo com a data do carimbo marcando o contrário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário