segunda-feira, 11 de junho de 2012

Osvaldão

 Criar um, dois, três... muitos Vietnãs” era a idéia do comunista Che de combate armado contra o avassalador poder de fogo capitalista encabeçado pelos EUA. A teoria apontava que ao criar núcleos guerrilheiros nas áreas rurais mais afastadas dos centros urbanos seria questão de tempo até que a estrutura dominante desmoronasse, de La Paz até Washington. 

É claro que Che também estava emputecido com todos os comunistas, que eram solidários, em palavras, ao povo do Vietnã, mas nada de prático faziam, e, quem poderia fazer algo, como a União Soviética acabava vendendo material bélico a preço do mercado mundial, igual aos países capitalistas. Che tinha moral para puxar as orelhas dos “comunas”.

No Brasil, o PC do B atendeu ao chamado dos “muitos Vietnãs”, e em 1965 mandou para Mato Grosso, quatro dos seus militantes, o afamado Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”, os recém-casados Gilberto Olímpio Maria e Victoria Grabois e Paulo Rodrigues, onde deveriam formar a “Guerrilha de Guiratinga”. Os jovens tentaram organizar a resistência à Ditadura, mas saíram da região em 1966 ao serem descobertos prematuramente pela Ditadura. No mesmo ano se reuniram a dezenas de outros militantes na chamada “Guerrilha do Araguaia”.  

Em 1973 Gilberto e Paulo foram mortos juntos a outros militantes do PC do B em Conceição do Araguaia. Osvaldão foi morto em 1974. Mais de sessenta guerrilheiros foram mortos, quase todos executados após a captura. Má sina a do Exército Brasileiro, do início nas capturas de negros foragidos, como famigerados capitães do mato, a verdugos fardados com a Verde Oliva.

O Exército precisou de cinco mil soldados e oitos meses na sua terceira e última investida para destroçar a guerrilha. A terceira campanha contou com a preparação da inteligência comandada pelo major Sebastião Rodrigues de Moura, agente do SNI, de codinome “Curió”. O major Curió se embrenhou no mato, levantou a situação dos guerrilheiros, e, principalmente, convenceu os lavradores (chamados de campesinos pelo PC do B) a serem mateiros, ou bate-paus do Exército, em troca, teriam terra às margens das estradas que mandou abrir, a OP-1, OP-2 e OP-3.

E quem matou o lendário “Osvaldão” foi um lavrador conhecido como Arlindo, ou “Piauí”, a quem conhecia, por que era amigo da família. Um tiro pelas costas e “Osvaldão” estrebuchou. 

Osvaldo Orlando da Costa era oficial da reserva, engenheiro, negro, como o mais retinto dos negros, e fazia sucesso entre as européias, pela beleza exótica, também por ser educado, galante, forte como um boxeador, mesmo porque fora campeão de boxe. O jovem “Osvaldão” poderia estar num conforto burguês, mas seria apenas um negro da casa-grande, e ele era negro da senzala. “Osvaldão” tinha muito do Che.

O tiro do “Piauí” pegou “Osvaldão” sobre a costela, abaixo da omoplata, e o negro caiu ao chão, com o pulmão arrebentado, os olhos cegos, mas arregalados, sangue golfando pelas narinas, e a boca buscando ar e emitindo sons absurdos e desesperadores. A morte chegara até o jovem guerrilheiro. A poucos metros “Piauí” esperava, com medo de que se levantasse o negro de 2 metros de altura, tido na região como invencível. Logo chegou um sargento e descarregou sua metralhadora. Depois veio “Pé-na-cova” e cortou a cabeça de “Osvaldão”. 

O pistoleiro “Pé-na-cova” fora recrutado pelo major Curió na região e o instalou, junto a outros bate-paus, como agricultor na estrada primária denominada OP-3. Alguns anos depois Curió o mandou para o garimpo da Serra Pelada, primeiro como olheiro e depois como guarda-costas. De fato, a Ditadura doou o lote de terras a “Piauí”, mas ele o abandonou porque não tinha dinheiro para escriturá-lo, e, também, porque fora ameaçado por outros lavradores. Morreu.

Em 2001 o juiz federal de Cuiabá Jefferson Schneider, respondendo por Marabá, PA, autorizou o MPF a buscar documentos na 23ª Brigada de Infantaria da Selva por que seu serviço de inteligência corria com historiadores e jornalistas interessados na guerrilha exterminada em 1974. Mesmo após a Ditadura a inteligência militar continuava na diretriz da “guerra interna”, ou seja, focando tão somente os movimentos sociais e, desde o PC do B, o perigo maior é o MST.


Um comentário:

Anônimo disse...

Olá , reportagem!
Porém a galera ,aqui, mencionada, foi enviada para o então norte de Goiás, sul do Maranhão e sul do Pará, e não Mato Grosso.
Grande abraço.
Wilson Gomes de Melo

Arquivo do blog