“Criar
um, dois, três... muitos Vietnãs” era a idéia do comunista Che de combate armado
contra o avassalador poder de fogo capitalista encabeçado pelos EUA. A teoria
apontava que ao criar núcleos guerrilheiros nas áreas rurais mais afastadas dos
centros urbanos seria questão de tempo até que a estrutura dominante desmoronasse,
de La Paz até Washington.
É claro que Che também estava
emputecido com todos os comunistas, que eram solidários, em palavras, ao povo
do Vietnã, mas nada de prático faziam, e, quem poderia fazer algo, como a União
Soviética acabava vendendo material bélico a preço do mercado mundial, igual
aos países capitalistas. Che tinha moral para puxar as orelhas dos “comunas”.
No Brasil, o PC do B atendeu ao
chamado dos “muitos Vietnãs”, e em 1965 mandou para Mato Grosso, quatro dos
seus militantes, o afamado Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”, os
recém-casados Gilberto Olímpio Maria e Victoria Grabois e Paulo Rodrigues, onde
deveriam formar a “Guerrilha de Guiratinga”. Os jovens tentaram organizar a resistência
à Ditadura, mas saíram da região em 1966 ao serem descobertos prematuramente
pela Ditadura. No mesmo ano se reuniram a dezenas de outros militantes na
chamada “Guerrilha do Araguaia”.
Em 1973 Gilberto e Paulo foram
mortos juntos a outros militantes do PC do B em Conceição do Araguaia. Osvaldão
foi morto em 1974. Mais de sessenta guerrilheiros foram mortos, quase todos
executados após a captura. Má sina a do Exército Brasileiro, do início nas
capturas de negros foragidos, como famigerados capitães do mato, a verdugos fardados
com a Verde Oliva.
O Exército precisou de cinco
mil soldados e oitos meses na sua terceira e última investida para destroçar a
guerrilha. A terceira campanha contou com a preparação
da inteligência comandada pelo major Sebastião Rodrigues de Moura, agente do
SNI, de codinome “Curió”. O major Curió se embrenhou no mato, levantou a
situação dos guerrilheiros, e, principalmente, convenceu os lavradores
(chamados de campesinos pelo PC do B) a serem mateiros, ou bate-paus do
Exército, em troca, teriam terra às margens das estradas que mandou abrir, a
OP-1, OP-2 e OP-3.
E quem
matou o lendário “Osvaldão” foi um lavrador conhecido como Arlindo, ou “Piauí”,
a quem conhecia, por que era amigo da família. Um tiro pelas costas e
“Osvaldão” estrebuchou.
Osvaldo Orlando da Costa era oficial
da reserva, engenheiro, negro, como o mais retinto dos negros, e fazia sucesso
entre as européias, pela beleza exótica, também por ser educado, galante, forte
como um boxeador, mesmo porque fora campeão de boxe. O jovem “Osvaldão” poderia
estar num conforto burguês, mas seria apenas um negro da casa-grande, e ele era
negro da senzala. “Osvaldão” tinha muito do Che.
O tiro do “Piauí” pegou
“Osvaldão” sobre a costela, abaixo da omoplata, e o negro caiu ao chão, com o
pulmão arrebentado, os olhos cegos, mas arregalados, sangue golfando pelas narinas,
e a boca buscando ar e emitindo sons absurdos e desesperadores. A morte chegara
até o jovem guerrilheiro. A poucos metros “Piauí” esperava, com medo de que se
levantasse o negro de 2 metros de altura, tido na região como invencível. Logo
chegou um sargento e descarregou sua metralhadora. Depois veio “Pé-na-cova” e
cortou a cabeça de “Osvaldão”.
O pistoleiro “Pé-na-cova” fora
recrutado pelo major Curió na região e o instalou, junto a outros bate-paus,
como agricultor na estrada primária denominada OP-3. Alguns anos depois Curió o
mandou para o garimpo da Serra Pelada, primeiro como olheiro e depois como
guarda-costas. De fato, a Ditadura doou o lote de terras a “Piauí”, mas ele o
abandonou porque não tinha dinheiro para escriturá-lo, e, também, porque fora
ameaçado por outros lavradores. Morreu.
Em 2001 o juiz federal de
Cuiabá Jefferson Schneider, respondendo por Marabá, PA, autorizou o MPF a
buscar documentos na 23ª Brigada de Infantaria da Selva por que seu serviço de
inteligência corria com historiadores e jornalistas interessados na guerrilha
exterminada em 1974. Mesmo após a Ditadura a inteligência militar continuava na
diretriz da “guerra interna”, ou seja, focando tão somente os movimentos
sociais e, desde o PC do B, o perigo maior é o MST.
Um comentário:
Olá , reportagem!
Porém a galera ,aqui, mencionada, foi enviada para o então norte de Goiás, sul do Maranhão e sul do Pará, e não Mato Grosso.
Grande abraço.
Wilson Gomes de Melo
Postar um comentário