“Gente, o cara aqui tá dizendo
que está ameaçado de morte!? O que eu posso fazer, gente? Agora se ele morrer eu
vou me sentir culpada o resto da vida”, lamentava a jovem senhora ao ouvir o
relato de um matuto que se esforça para transformar terras devolutas na
região do Araguaia em área de proteção federal. Por acaso, a agoniada senhora é
Maria do Rosário Nunes, Ministra-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República.
A ministra viera à Cuiabá para o
encontro com as lideranças sociais e, também para receber das mãos do
governador uma medalha de honra ao mérito. Acabou se emocionando com a
homenagem, com os rapapés e salamaleques, e chegou escoltada por dezenas de
batedores ao encontro para “ouvir as demandas da sociedade civil”. Avisou que
teria apenas uma hora para ouvi-los porque havia outro compromisso oficial da “Caravana
dos Direitos Humanos”.
As “demandas da sociedade civil”
eram muitas. Infelizmente a ministra desconhecia a base dos problemas de Mato
Grosso, a posse da terra. O assunto GLBT lhe era familiar, violência contra
mulher também. Mas violência no campo, em Mato Grosso, não conhecia não.
Desconhecia o assunto Maraiwatsede, ou conflito entre posseiros e índios
xavantes de Barra do Garças, ou os “Retireiros do Araguaia” da região de
Luciara, da qual faz parte o “cara ameaçado de morte”.
Curiosamente, veio afiada no assunto
“Tony Bernardo”, na qual o universitário africano, que abandonara os estudos, se
viciara em drogas, e acabara morto a pontapés, acabou tendo seus algozes livres
pela justiça, motivo pela qual militantes sociais cuiabanos levaram o caso à
tribunais internacionais, e isso afeta o governo de Mato Grosso.
O matuto ameaçado de morte percorreu
1,2mil km para levar o seu problema a uma autoridade federal e saiu
constrangido por ter ferido as suscetibilidades da ministra. “Queria aporrinhar
a mulher não, queria que ela falasse pro governador, seu amigo, dono de terras,
homem muito rico, que olhasse por nós no Araguaia”. Menos compungido e mais
irritado ficou um dos líderes do MST ao relatar o conflito na região de Sorriso
devido ao que considera inépcia do INCRA.
É claro que a ministra
desconhecia os conflitos do MST em MT, e o governador tão pouco lhe diria que
há poucos dias sua polícia fez bobagem ao desapropriar moradores urbanos,
derrubando barracos e os golpeando com balas de borracha. Mas o que o líder do
MST queria além do apoio moral era o intermédio dela com outras autoridades,
inclusive com o próprio governador de Mato Grosso. O que o MST não teve foi
apoio da ministra Maria do Rosário.
Ao invés de solidariedade ou
comprometimento a ministra provocou o MST a apresentar outro modelo econômico que
não o capitalismo à brasileira. Praticamente a ministra mandou o MST pegar em
armas e colocar de pé o projeto socialista made in Cuba. Irritado, o líder do
movimento social, por acaso, monitorado pela ABIN e outros grupos de
Inteligência, disse que não brigava por modelo econômico simplesmente porque o
MST apoiou Lula e apoia Dilma.
Findo o tempo da ministra, que
se dispôs a ouvir as “demandas da sociedade civil”, saiu para ir até a Praça
Alencastro, onde se reencontraria com o staff do governador, porque, como se
sabe “a praça é do povo, como o céu é do condor”.
2 comentários:
Mais perdida que cego em tiroteio, essa nossa ministra.
Lembrou muito os nossos velhos políticos, que não se comprometem, que falam muito, que culpam pessoas ou a própria História, enfim, lembra muito o velho político malandro, apesar de ser mulher, do sotaque, e, principalmente, ser do PT.
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