Augusto José da Costa, conhecido como Português, chegou em 1979 comprando uma fazenda ao lado daqueles pobres-diabos que viviam sobre terras de ninguém, de gente ou do governo. Todos tão fracos e cuja união de fraquezas não dariam sequer um nó forte ainda mais capacidade para resistirem ao Augusto Português. Mas, resistiram.
Então, se seguiu o roteiro de sempre em Mato Grosso.
Na chuvosa noite de 04/09/1982 apareceu a polícia na casa de Trindade acusando-o de roubo e que fariam uma busca nos seus cômodos. Eram seis homens. Sob o comando do delegado Nelson Tokashike estavam os policiais civis Ataíde Ribeiro Taques, Benedito Gonçalo Teixeira da Costa e, os paisanos, Carmosino Lisboa de Andrade, Aristolides de Macedo e Bonifácio Lemes.
Recebeu-os na porta, sem camisa, e ao se virar levou o primeiro tiro. Caiu. Seu filho Juvenal, de 15 anos, tentou defender o pai. Foi baleado. Gritos. Correu para o mato. Tiros. A mulher, buchuda de oito meses, agarrou as mãos dos dois filhos pequenos e também correu para o mato em busca de ajuda.
Pela manhã encontram o corpo de Henrique José Trindade. Tinha sido furado à bala, seus lábios rasgados à faca, seus olhos arrancados à unha. Dizem que o bando receberia terra em troca, os capangas do fazendeiro aceitaram, os policiais queriam dinheiro, e o delegado, moço urbano e letrado, preferia uma casa na Capital – em troca, deveriam matar três posseiros, Trindade foi o primeiro.
A notícia causou comoção em Mato Grosso. O governo Júlio Campos prometeu apurar. Não o fez. Nenhum governo apurou. Os policiais envolvidos disseram que era apenas o caso de um ladrão que ofereceu resistência, levou um tiro, fugiu e acabou morrendo escondido no meio do mato. A Perícia parece ter confirmado essa versão, bem como a Justiça e o Ministério Público porque o processo prescreveu e os assassinos ficaram livres.
Apenas um auto de resistência envolvendo um negro metido à besta em Mato Grosso.
A conivência do estado com o crime foi tão gritante que militantes católicos fundaram o Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade. Logo depois, movimentes sociais católicos abriram outros centros de defesa dos direitos humanos, como o João Bosco Bournier, em memória ao padre morto ao defender mulheres que estavam sendo torturadas numa delegacia para apontarem o esconderijo de posseiros também acusados de roubo.
Restou ao CDH Henrique Trindade correr para junto da Organização dos Estados Americanos, OEA, que, chamou o estado brasileiro à fala. Ameaçado de entrar na lista dos violadores dos Direitos Humanos, que implica em sanções financeiras, nosso País, através da PGE/MT, se propôs a indenizar a família do lavrador Trindade em R$90mil e a pagar 02 salários mínimos à viúva, de 75 anos.
Mato Grosso se propôs apenas a isso, nem um pio sobre mais nada.
Soltos, livres das punições, com os bolsos leves, os assassinos carregam apenas o peso da idade. Exceto Benedito, com 60 anos, os demais são quase tão idosos quanto Carmosino, com 85 anos.
Pode ser que Ataíde Ribeiro Taques seja um homem realizado porque mora tranquilamente há 15 anos com sua aposentadoria de R$3mil reais em Cuiabá , tendo uma filha vereadora e um filho coronel da PM. Seu ex-parceiro de polícia e de crimes, Benedito Gonçalo Teixeira da Costa, pouca sorte teve ao ser expulso em 2009 antes da aposentadoria. O ex-chefe dos dois, Nelson Tokashike ganha a vida na advocacia entre Mato Grosso e o Distrito Federal.
Quanto aos demais pouco se há de Aristolides de Macedo ou Augusto Português. Dizem que Carmosino logo após o crime fraudou documentos de terras públicas em Rondônia junto a mais vinte pessoas e grilou 20 mil hectares, mas não teve o lucro que esperava. Mais modesto e ainda tentando ganhar a vida, Bonifácio toca sua terrinha em Alto Paraguai.
fotos extraídas da TVCA.
2 comentários:
Boa Noite!
Esta lendo esta matéria e fique em dúvida se o senhor Carmosino Lisboa de Andrade, morreu neste episódio e se ele ainda mora nesta cidade e como faço para ter mais informações sobre ele.
ATT: Elaine
O seo Carmosino teve que sair da região, e foi para Rondônia, onde ganharia um pedaço de terra do INCRA. Estava vivo até coisa de alguns anos atrás, e pela idade, não sei se ainda vive, na roça ou com os filos, na Capital, Porto Velho. Infelizmente, não disponho de informações para ajudá-la.
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