Apesar da miopia e das alergias continuo lendo coisas antigas como gibis, revistas, livros e mesmo jornais, com um misto de curiosidade ao descobrir coisas novas, de admiração ao ver o quanto as gerações anteriores possuíam de conhecimento, de deleite pela criatividade e, talvez, por querer recuperar o tempo perdido consumindo o que não pude consumir na época.
Os jornais , por exemplo, dificilmente eram lidos na roça, e os haviam, e eram apreciados como veículos de informação, mas tinha um problema, seu prazo de validade, que os tornava caros, e mesmo reaproveitá-los para embalar ovos no cesto, acender lenha no fogão ou mesmo limpar a bunda não os tornavam econômicos porque para tudo isso havia as espigas de milho guardadas no paiol e, para as notícias frescas havia a gratuidade do rádio.
Que tipo de assunto poderia interessar a alguém na roça?
Os assuntos políticos desde sempre eram depreciados, e ao contrário do que dizem alguns velhos saudosistas os antigos políticos não honravam o fio do bigode, sequer se lembravam do que haviam assinado ou se comprometido em público.
A parte policial pouco impacto causaria porque os crimes locais acabavam rapidamente sendo informados e discutidos pelos vizinhos, e outros crimes, por terem acontecido longe causavam apenas o assombro de que nas cidades as pessoas são de pouca confiança.
O que mais poderia interessar como notícias esportivas, receitas ou fofocas, e tudo o mais o rádio informava. Para quê gastar dinheiro com jornal?
Mas, um informativo era bastante apreciado na roça: os almanaques. Haviam os gratuitos, como os de farmácias ou os pagos, como o Almanaque d´O Pensamento. Todo início do ano estavam disponíveis nos balcões do comércio na cidade mais próxima e traziam desde piadas até tábuas lunares com o melhor período para cuidar do gado ou da lavoura.
Há pouco me caiu às mãos um exemplar de um almanaque que relatava Mato Grosso de 1930.
É claro que isso foi há muito tempo, numa época em que nossa região sofria com a falta de infra-estrutura, como estradas, hospitais ou escolas, as terras eram concentradas nas mãos de poucos, havia sonegação de impostos, políticos corruptos e várias outras coisas erradas em que basicamente os pobres se lascavam e apenas os ricos tinham vez.
Certamente que as coisas mudam pouco nesse sentido e eu mesmo mudei de modo muito lento, minha paixão por Leonel Brizola mudou para o Fernando Henrique Cardoso e no final do primeiro governo Lula, descobri que estava errado, e que mesmo com o encantamento com o Collor, o político da minha vida era o Lula.
Minha condição mudou, olhei ao meu redor e vi que a dos meus parentes e amigos, todos antigos pobres diabos, também havia mudado. Nunca senti tanto orgulho de ser brasileiro e estar em Mato Grosso quanto nos últimos anos.
Antes de tudo, o que se passou à limpo não foi o status, agora no confortável padrão de classe média, mas ter me enxergado como gente, pessoa autônoma e não mais como mero peão que trabalhava nas terras de outros a paga de comida, com medo de perder a diária e até o próprio nome. Há décadas saí da exploração no campo e há apenas alguns anos essa opressão saiu de mim, e isso, indubitavelmente, passou pela catarse provocada em minha vida por um também ex-peão chamado Luís Inácio Lula da Silva.
Os jornais , por exemplo, dificilmente eram lidos na roça, e os haviam, e eram apreciados como veículos de informação, mas tinha um problema, seu prazo de validade, que os tornava caros, e mesmo reaproveitá-los para embalar ovos no cesto, acender lenha no fogão ou mesmo limpar a bunda não os tornavam econômicos porque para tudo isso havia as espigas de milho guardadas no paiol e, para as notícias frescas havia a gratuidade do rádio.
Que tipo de assunto poderia interessar a alguém na roça?
Os assuntos políticos desde sempre eram depreciados, e ao contrário do que dizem alguns velhos saudosistas os antigos políticos não honravam o fio do bigode, sequer se lembravam do que haviam assinado ou se comprometido em público.
A parte policial pouco impacto causaria porque os crimes locais acabavam rapidamente sendo informados e discutidos pelos vizinhos, e outros crimes, por terem acontecido longe causavam apenas o assombro de que nas cidades as pessoas são de pouca confiança.
O que mais poderia interessar como notícias esportivas, receitas ou fofocas, e tudo o mais o rádio informava. Para quê gastar dinheiro com jornal?
Mas, um informativo era bastante apreciado na roça: os almanaques. Haviam os gratuitos, como os de farmácias ou os pagos, como o Almanaque d´O Pensamento. Todo início do ano estavam disponíveis nos balcões do comércio na cidade mais próxima e traziam desde piadas até tábuas lunares com o melhor período para cuidar do gado ou da lavoura.
Há pouco me caiu às mãos um exemplar de um almanaque que relatava Mato Grosso de 1930.
É claro que isso foi há muito tempo, numa época em que nossa região sofria com a falta de infra-estrutura, como estradas, hospitais ou escolas, as terras eram concentradas nas mãos de poucos, havia sonegação de impostos, políticos corruptos e várias outras coisas erradas em que basicamente os pobres se lascavam e apenas os ricos tinham vez.
Certamente que as coisas mudam pouco nesse sentido e eu mesmo mudei de modo muito lento, minha paixão por Leonel Brizola mudou para o Fernando Henrique Cardoso e no final do primeiro governo Lula, descobri que estava errado, e que mesmo com o encantamento com o Collor, o político da minha vida era o Lula.
Minha condição mudou, olhei ao meu redor e vi que a dos meus parentes e amigos, todos antigos pobres diabos, também havia mudado. Nunca senti tanto orgulho de ser brasileiro e estar em Mato Grosso quanto nos últimos anos.
Antes de tudo, o que se passou à limpo não foi o status, agora no confortável padrão de classe média, mas ter me enxergado como gente, pessoa autônoma e não mais como mero peão que trabalhava nas terras de outros a paga de comida, com medo de perder a diária e até o próprio nome. Há décadas saí da exploração no campo e há apenas alguns anos essa opressão saiu de mim, e isso, indubitavelmente, passou pela catarse provocada em minha vida por um também ex-peão chamado Luís Inácio Lula da Silva.
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