sexta-feira, 27 de maio de 2011

A imprensa cuiabana: José Ribamar Trindade dos Santos

Algo me incomodou quando da morte dos estrelados e polêmicos policiais civis Edson Leite e João Osni. A articulação da cúpula da polícia civil era a esperada. A comoção pela perda dos policiais também. Os murmúrios sobre a reputação dos dois idem. Dado os personagens e as circunstancias das suas mortes é certo que já fazem parte da crônica policial cuiabana e esse capítulo continuará sendo escrito e consumido avidamente pelas próximas semanas. A história é boa.

Crudelíssimamente a novela é real menos porque um cidadão foi assassinado, mero figurante que dá mote a ação dos personagens principais, ambos antagonistas, e bem mais devido a expectativa do novelo da história que será desenrolado e poderá revelar justamente os enredos paralelos e, até mesmo o mais aguardado, o enrosco de algum figurão nessa teia. Sim porque em todas as histórias da vida real tem que haver alguém afastado da imundícia das ruas e que manipula a situação com mãos assépticas em benefício próprio. Porque outro motivo a segurança pública de Mato Grosso está como está?

A história pode não ter nada uma coisa com a outra, pode não haver conexão alguma entre os policiais mortos com a interminável insegurança nas ruas, mas o que importa é que se existe a crônica também existe o bom contador de histórias. Eis que temos em Cuiabá um dos bons, que bem poderia ser um Percival de Souza.

José Ribamar Trindade dos Santos, 60 anos, é um pau-rodado vindo de Belém, PA, e há mais de trinta anos é jornalista especializado na área policial cuiabana sendo um dos mais lidos devido as suas palpitantes matérias sempre bem escritas e, principalmente, pela exclusividade e ousadia de reportar as ações mais despercebidas da bandidagem. Com um pouco mais de burilada e os textos do jornalista se tornariam clássicos da vida cão da urbes cuiabana, mas uma das suas falhas é não fechar o círculo da história, ou seja, sempre há o começo e o desenrolar da coisa toda, mas nunca o seu fechamento, o seu fim.

Mesmo porque alguns dos seus trabalhos chegam a ser tidos como excessivamente ficcionais como a manchete do site 24HorasNews das 14h10 do dia 25/05/2011 sobre “Bandidagem faz "festa" para comemorar mortes de Edson Leite e João Osni” ( link
http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=370381) e isso me inquietou como só a burla faria ao quebrar a confiança que deposito na escrita do veterano jornalista. Noticiar sobre queima de fogos, nunca ouvidos, churrasco e comemorações ao som da música "Festa no Apê" também é pouco crível. Os bandidos locais, moradores das áreas mais pobres da cidade não ouvem o urbano-mauricinho cantor Latino.

Além do que, essa suposta comemoração foi corroborada por um bandido que ligou para o próprio jornalista para se justificar. “Morreram dois policiais que a gente respeitava, pois estavam sempre no nosso pé, principalmente o Edson. Eu não conheci nenhum tira igual ao Edson e o Chicão. Gente, quando aqueles dois estavam junto nós sofríamos muito mais. Deus os ponham em bom lugar, mas a gente vai comemorar”, disse o bandido. Mais Gugu Liberato entrevistando traficantes de drogas redimidos impossível.

O uso da palavra “tira” para designar “policial” é bem típico dos dubladores de filmes norte-americanos e tão esdrúxula em terras brasileiras quanto o “mexa esse traseiro gordo” ou o “vejo você depois jacaré”. Infelizmente em terras cuiabanas não temos um Gil Gomes para colocar as coisas nos seus devidos lugares, como a afirmação em reportagem do 24HorasNews das 22h10 sobre “Policiais podem ter errado nas investigações: mataram e morreram” ( link
http://www.24horasnews.com.br/index.php?tipo=ler&mat=370309) em que o jornalista José Trindade aponta que o finado policial Edson Leite desarticulou centenas de quadrilhas e prendeu pelo menos cinco mil bandidos (um bandido preso a cada dois dias, e incansavelmente sobre-humano, mesmo com a premissa de que policial é policial em qualquer situação ).

Certamente que, conhecedor do meio policial, o jornalista tenha escrito sob forte emoção e tenha dado voz a suas fontes habituais, todos afoitos para homenagear dois dos mais famosos policiais cuiabanos mortos em missão encoberta e até o momento não revelada, a não ser a informação oficial de que o cidadão assassinado o fora devido a confusão com um velho bandido conhecido também do meio policial de Mato Grosso.

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