Dante Martins de Oliveira, vulgo “Magrão”,
ou “Homem das Diretas Já”, morreu aos 54 anos devido a uma leve pneumonia, que
o levou andando ao hospital, e a uma avassaladora diabetes, que o prostrou por
doze horas, até que seu coração deixou de bater. A figura política mais
importante de Mato Grosso tentava voltar à cena política, ao Congresso, não
conseguiu, mas seu mito elegeu a deputada federal Thelma Pimentel Figueiredo de
Oliveira.
Dante de Oliveira apesar de ser
homem público era deveras sensível a contrariedades. “Se há problemas então o
homem estará pescando em algum lugar do Pantanal”, diziam seus adversários, por
que alternava momentos de forte euforia com apertados momentos de depressão. Às
vezes sumia por longo tempo como ao romper com os companheiros do MR-8 em 1982,
devido a campanha a deputado federal, ao romper com o PMDB em 1990 devido a
prefeitura de Cuiabá, a romper com o PDT em 1995 devido ao governo de Mato
Grosso.
Dizem os ingratos que as brigas
aconteciam apenas para se livrar das dívidas ou compromissos assumidos com os
companheiros porque montado nos votos era recebido como uma noiva graciosa e virginal
por novos companheiros. Mas Dante de Oliveira também negava fogo como na briga
com o Judiciário em 1995, que o levou a ficar semanas recolhido do público, ou
quando foi vaiado num bairro pobre de Cuiabá em 1997. Porém, sua reeleição em
1998 levou os seus amigos a considera-lo nome de expressão nacional que não
deveria se apoquentar com mixarias de Mato Grosso, e o isolaram.
Em 2002 perdeu a eleição e o seu PSDB
ruiu, seus amigos sumiram, começando com cadeiras que voavam das mãos dos
tucanos quando da apuração dos votos. Depois de tudo, tudo se acabou. O senador
Antero Paes de Barros concluiu o mandato, e não se elegeu mais. O mesmo
aconteceu com sua viúva eleita deputada federal. O PSDB elegeu o deputado
estadual, Carlos Avalone, também amigo de infância de Dante, seu ex-secretário de
governo, que até usava barba igual ao chefe, mas que raspou e ficando com o
rosto liso igual ao novo governador, Blairo Maggi.
Em 2004 Dante de Oliveira, que ainda
procurava vencer a sua agonia e buscava algum tipo de espaço no meio político, ou
mesmo a adrenalina de falar com a multidão que cultivava desde os anos 70, fora
impedido pelo PSDB de subir nos palanques, pois sua imagem poderia comprometer
a do agora melhor homem do partido Wilson Pereira dos Santos, o “Galinho”. Angustiado,
novamente se afastou de todos, mesmo porque os olhos, sorrisos e abraços de
todos pertenciam ao novo governador. Esperou sua nova chance, e a morte o
abateu.
Condoído com a morte de Dante em
2006, o prefeito Wilson quis homenageá-lo trocando o nome da Avenida Mato
Grosso, no centro de Cuiabá, para “Avenida Dante de Oliveira”, mas os moradores
não toparam, aparentemente eram petistas ou simpatizantes do PT. Então o
prefeito voltou à carga, e trocou o nome de uma estreita, mal conservada e longínqua
avenida da periferia chamada “dos Trabalhadores” para “Dante de Oliveira”.
As homenagens do PSDB de Mato Grosso ao seu principal tucano foram poucas, sofríveis e se esmaeceram como as três
placas plantadas pela cidade em sua honra, e que hoje são meramente lixo
abandonado. Se as obras se acabam, vão surgindo dúvidas sobre Dante de Oliveira
ser um bom gestor, ou mero entreguista, como diria a oposição, se era um excelente
político, ou mero oportunista, como esbravejava Leonel Brizola, se era
idealista, ou torto alienado, como diriam antigos companheiros do MR-8, se era
puro, ou corrompido, como acusa Palmério Dória.
O que restou da memória do “Homem
das Diretas”?
Os filhos não vieram porque uma
caxumba rendida não deixou. O mais promissor dos sobrinhos se lançou à política,
e perdeu. Disseram que seus amigos milionários lhe construiriam algo como o “Instituto
Dante de Oliveira”, mas eles não devem ser tão ricos assim, ou preferem esperar
novamente o PSDB no poder para então fazerem alguma coisa com dinheiro público.
Dizem também que sua viúva se casou novamente, e o novo marido não quer competição
com o defunto.
Em Cuiabá a memória do outrora
garboso Dante de Oliveira dos anos 90 vai se apagando.
Quando foi governador, especialmente
no segundo mandato, a mídia o incensava como estadista, um político a frente do
seu tempo, alguém que combatera a corrupção, a má gestão pública, o
corporativismo, as más práticas da política e que vencera a tudo, finalmente “arrumando
a casa”, ou “fazendo a lição de casa”. O modernoso mote “arrumar a casa” era repetido
uma barbaridade no Palácio Paiaguás, o que significava demitir pessoal e vender
ativos do Estado de Mato Grosso, conforme ordens do Palácio do Planalto de FHC,
que repetia a mesma determinação de Washington, DC.
Um comentário:
A metáfora do abandono das placas dele pela cidade com sua memória são uma imagem precisa da memória de Dante após sua morte aqui na capital. Há uma história menos nobre sobre a morte dele que me contaram uma vez, mas dá pra ver que seu estilo de escrever não permitira reproduzi-la aqui. ;)
Abraço
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