segunda-feira, 25 de março de 2013

Os bons negócios: terras de alguém chamado ninguém



“Ô grileiro, vamos fazer um trem, ao invés de você ficar com a minha terra, você dá a sua para uma família muito necessitada, aliás, a família já taí no terreiro do seu barraco esperando, então, vou levar você agora mesmo prá estrada de rodagem, e você nunca mais apareça aqui, senão morre, e se achar ruim morre é agora mesmo que fica mais fácil”. O homem de cabelos sarará, magro, pele amarelada, acordou com o cano de um .38 no rosto empunhado pelo Osvaldão, um dos “paulistas” que havia chegado a alguns anos para lavrar a terra e ganhar dinheiro vendendo tecidos na região sul do Pará, ao norte de Mato Grosso, no Araguaia. 

O homem amarelo era um grileiro manhoso e violento que começara a tomar terras na região e mandara um recado para um negrão de voz macia e sorriso largo para abandonar o barraco antes que viesse a comer capim pela raiz.  O que não se sabia era que o “criolo” era o comandante Osvaldão, que contava com quase 60 guerrilheiros integrantes das “forças revolucionárias do Araguaia”. Apesar do azar o homem amarelo tivera sorte em ser apenas um valentão, um bate-pau, um dedo-duro, mancomunado com os poderosos, por que se fosse um capangueiro, jagunço ou pistoleiro o destino teria sido outro, como comer capim pela raiz.

O senso de orientação da justiça dos habitantes do lugar sempre fora cruento por que a paz social era resignadamente aceita como garantida a manus militari, ou pacificada à chumbo.  Por decurso dessa crueza que os pistoleiros, ou capangas, sempre foram vistos na região do Pará, Mato Grosso e Tocantins, como homens de livre iniciativa melhores que a PM, por que quem sentava praça era porque não tinha competência para trabalhar para “os doutor”, ganhar dinheiro com os grandes fazendeiros, que expulsavam ou matavam os pequenos para expandir suas propriedades. Mesmo porque, o dinheiro não estava com a população local.

Nos anos 70 a população local possuía o perfil de migrantes de meia idade maranhenses, analfabetos, extremamente pobres, que chegaram para tocar as terras devolutas, por conta própria ou como empregados braçais ao ganho diário do equivalente a 1 Kg de arroz, ou Cr$18,00, ou 2 Kg de sal, a Cr$20,00, sendo que uma lata de óleo custavam Cr$40,00, ou dois dias de trabalho. Além da derrubada da mata, para plantar um roçado, havia a extração de babaçu, ou a extração de látex dos seringais nativos, que rendiam 1 tonelada ao ano, mas que,  apesar de defumados, eram descontados 100 Kg por serem “pura água”. 

Apesar de tudo, das décadas que passaram, das gerações que surgiram pós “Guerrilha do Araguaia”, as coisas não mudaram muito, e o sabemos porque vez ou outra o Ministério Público do Trabalho continua libertando, ano após ano, centenas de escravos na região, trabalhadores braçais que, acostumados com a crueza da vida, sequer sabiam que eram escravos. Naturalmente que é melhor trabalhar na própria terra que na dos outros. Mas, a concentração das terras em mãos de poucos ainda é tida como coisa natural ainda hoje, sendo a reforma agrária vista com certo temor pela população local.

A conversa de reforma agrária, coisa havida no século XIX nos EUA, porque é necessária ao desenvolvimento do sistema capitalista posto que os pequenos produtores rurais, ao contrário dos lavradores sem terra, desenvolvem a chamada livre iniciativa, a criativa competição e a desejada ambição individual, e, no afã de acumular dinheiro, ou crescer dentro do sistema, irá inundá-lo com comida, barateando o custo de vida dos trabalhadores dos escritórios e fábricas, aumentando a chamada mais-valia de outros, como os industriais. Isso quer dizer que a base do sistema é a propriedade. 

O tema reforma agrária, aliás, fora um dos motivos do Golpe de 64, devido a ser um dos interesses populares colocados como política pública do Governo Jango, e que já fora testado com relativo sucesso pelo governador gaúcho Leonel Brizola. Então, rapidamente os dois políticos defensores do capital nacional foram taxados de comunistas pela mídia brasileira, ou de entreguistas à URSS ou China, e de planejarem transformar o Brasil de dimensão continental numa nova Cuba. Assim, a reforma agrária, que fora base para o capitalismo nos EUA, se tornara coisa de comunista, de quem odeia a Pátria.

A Ditadura Militar, dizendo amar mais o Brasil que os governos democráticos, ao invés de gastar dinheiro com trabalhadores sem terra, elevando-os a condição de pequenos proprietários, preferiu dispor de grandes somas de financiamento público e demais incentivos, como titulação rápida de terras, expulsão de posseiros e índios, a grupos capitalistas como a Brazil Loud Catle Parking com 2 milhões e 900 mil hectares na região de Cáceres, MT, a Companhia Agropecuária Suiá-Missú S/A, com 678 mil hectares em Alto da Boa Vista, MT, ou a Companhia de Desenvolvimento do Araguaia, com 196 mil hectares em Luciara, MT.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

As boas ideologias: eu já fui preto

“Eu já fui preto e sei o que é isso” disse Róbson, craque do fluminense nos anos 50, segundo o relato do jornalista Mário Filho, um dos responsáveis em transformar as matérias sobre futebol, algo marginal numa sociedade que respirava política, em algo de ávido interesse do público. Pode ser que a frase tenha sido criada pelo jornalista, por acaso irmão de Nelson Rodrigues, devido ao momento histórico em que o cidadão médio discutia o caráter do povo e o destino da nação brasileira a partir da cor da pele.

Isso porque com a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1950 surgiu o nosso “complexo de vira-latas”, lançado por Nelson Rodrigues, em que a nossa “mulatização” provocara na alma nacional um atávico complexo de inferioridade e, não por outro motivo, craques como Barbosa, Bigode e Juvenal carregaram a culpa do fracasso e a acusação de terem “amarelado”, ou como se dizia na época, “os pretos da seleção se borraram todos”. É claro que anos depois surgiu um craque inquestionável, o rei Pelé.

O rei se diz “criolo”, como era costume dizer antigamente, e hoje não se pode mais, e muito menos chamar ninguém de “pretinho” ou “escurinho”. De qualquer forma, apesar de assumir a negritude, nem mesmo o impecável rei escapa da regra do “eu também já fui preto”, mesmo porque se manteve afastado das discussões raciais e, para não variar, se envolveu sexualmente apenas com moças brancas, tendo filhos mulatos, amorosamente assumindo-os todos, exceto uma filha, por acaso, a mais “escurinha”.

É claro que nem mesmo Pelé escapa da “Maldição de Cã”, ou seja, do filho de Noé que fora amaldiçoado pelo pai a servir como escravo dos seus irmãos por toda a eternidade. Mas como o indivíduo não vive para sempre, e sim os seus gens através dos seus filhos, e dos filhos dos seus filhos, a maldição fora estendida aos descendentes de Cã, que, se estabeleceram na África e onde seriam reconhecidos pela marca da maldição, a cor escura, além do nariz chato e do cabelo pixaim.

Mui provavelmente os negros teriam a alma condenada, e apenas se salvariam com muito trabalho duro, se aceitassem catolicamente a condição de escravos dos seus irmãos brancos. Isso durante a escravatura. Todavia, com a Abolição ex - escravos perambulavam pelas cidades às vistas dos homens de bem e pensadores que apontaram o problema da miséria e da violência devido ao envenenamento nacional pelo “sangue ruim” dos negros, sempre pobres, promíscuos, indolentes, criminosos e violentos.

A saída seria “embranquecer” a nação com os imigrantes, e mostrar aos negros que por imitação total aos brancos e através de casamentos inter-raciais, mesmo porque pobres devem casar, o Brasil teria a cada geração os traços fenótipos europeus e se esqueceria da sua natural inferioridade, ou seja, o único modo dos “afros - descendentes” obterem a redenção, ou reconhecimento social como seres humanos que possuem alma imortal era se tornarem brancos.

O tempo passou, atravessamos o século XX ainda com o pensamento da “mancha de Cã” encruada em nosso país, e chegamos ao século XXI substituindo a noção de hierarquia social calcada nas raças pelas desigualdades sociais, ou falta de oportunidades devido ao peso do Estado sobre a vida do cidadão, e o único modo de alterar essa realidade seria a distribuição de renda e, um pouco mais que isso, através do acesso de todos à Educação.

Aparentemente todos concordaram com isso, do PSDB ao PT, porque é sabido que um engenheiro civil ganha mais que um servente de pedreiro, ou que um universitário possui mais possibilidades que um garoto semi - alfabetizado. É claro, ninguém é indiferente às pessoas passando fome, e todos desejam que o governo dê educação formal à todos os brasileiros.

No entanto, quando o PT criou os programas de distribuição de renda chamados de “bolsa família” isso foi considerado uma aviltante “bolsa esmola” que apenas favorecia um círculo continuo de mais pobreza levando inclusive a pobres parindo promiscuamente mais pobres sob o incentivo do governo federal. Então os críticos se lembraram de que o “bolsa família” era apenas a ampliação de um programa criado pelo PSDB, e aí o assunto morreu. O problema maior ocorreu com oprograma de reserva de vagas por etnia, a chamada “cotas raciais”.

Segundo nossas elites, através dos seus porta-vozes, Veja, O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, ou assistindo ao Jornal Nacional, no Brasil de negros, índios e estrangeiros há espaço para que todos, desde que estudem, e certamente, todos acabarão como Eike Batista ou Thor Batista. Isso é o que diz a nossa mídia, pois “Não somos racistas”, conforme defende o livro do chefão dos jornalistas da Rede Globo Ali Kamel que, curiosamente, investe contra as cotas na Educação.

Ao invés de cotas o Estado deveria investir firmemente na educação básica porque é obrigatória a todos os brasileiros e, sendo assim, todos os brasileiros, incluindo negros e índios, terão igualmente a mesma capacidade para ingressar numa faculdade. Esse é o pensamento encastelado nos partidos DEM/PSDB, mas o PT e partidos de esquerda acham a prática inviável, pois corrigir distorções sociais levariam gerações, e, por motivos óbvios, dispensam comparações com os precoces “Tigres Asiáticos”.

Ocorre que o Estado brasileiro sempre foi chegado numa pegadinha, em palavras tortas, por exemplo, em 1888 a Princesa Isabel assinou a abolição da escravatura, mas não o extinguiu simplesmente, apenas dispôs que haveria proibição até o ano de 1988. É claro que, findo o prazo de validade da lei, ninguém se dispôs a restaurar a escravatura no Brasil, mesmo com o controle do Estado nas mãos da mesma elite da época do Império.

Indo um pouco na direção de que os tempos são outros, apesar de tudo, é que alguns forçam a mão, e acabam descobrindo que as coisas mudam, e permanecem as mesmas.

Pois não é que a algum tempo o jornalista Heraldo Pereira processou o colega Paulo Henrique Amorim porque fora chamado “preto de alma branca”, e ganhou a ação por injuria racial. É claro que sabemos quem são os dois profissionais, são bons jornalistas. O problema é que Paulo Henrique milita na causa negra e considera as cotas raciais como algo concreto e válido, ou seja, primeiro se implanta essa política e depois de uma geração, algo como 25 anos, se avalia os efeitos na sociedade brasileira.

Se o branco Paulo Henrique Amorim se expos em prol dos negros brasileiros o mesmo não aconteceu com o negro Heraldo Pereira, restando a impressão de que preferiu ficar mudo a se indispor com a elite brasileira através do seu chefe Ali Kamel. É claro que Paulo Henrique torturou o íntimo de Heraldo Pereira, a começar chamando-o de “negro da casa grande”, como referencia aos antigos escravos que prestavam serviços domésticos, privavam da amizade dos senhores, e ignoravam o sofrimento dos irmãos “negros da senzala”. 

Porém, se Heraldo Pereira passou ao largo da discussão das cotas, ou como o DEM/PSDB chama, de “racialização ideológica do PT”, porque é um assunto que absorve totalmente a figura pública do jornalista, e, talvez porque cultive valores como mérito pessoal, esforço próprio, desejo individual de ascensão social, eis que, também não omitiu que a Rede Globo o contratou nos anos 80 tão somente por que queriam um jornalista negro na equipe, entrou por cota.

Ao mesmo tempo em que Heraldo Pereira buscava seu reconhecimento profissional no interior de São Paulo, no interior de Mato Grosso, um jovem jornalista buscava a mesma coisa saindo de Cáceres para Cuiabá, seu nome era J. Júnior, sendo depois reconhecido por Elias Neto.

O sonho do cacerense, de origem étnica confusa, talvez Bororo brasileiro ou Chiquitano boliviano, era trabalhar na TV Globo, e se no rádio tudo estava bem, na televisão a melhor figura da época em Cuiabá era Lúcio Aparecido Sorge, seu colega de rádio, e de pobreza. Apesar do profissionalismo e talento de ambos, da beleza masculina dos dois, reconhecida em qualquer lugar do mundo, o que os distinguia é que Lúcio Sorge é branco, e Elias Neto não, e, partindo desse ponto um deles chegou três anos antes na TV Globo, ou a cuiabana TVCA. 

Atualmente podemos considerar que Elias Neto é a cara de Cuiabá para quem vem de fora ou para os “paus-rodados”. E nesse sentido, houve uma reportagem nos anos 90 em que dizia que os traços indígenas eram os traços dos cuiabanos, sendo o que os identificavam e, Elias Neto era sua melhor expressão. Todavia, para não fugir a regra do “eu já fui preto e sei o que é isso”, ou querendo passar longe de uma identidade particular que não a imposta pelos cultores do “embranquecimento” nacional, Elias Neto respondeu apenas: “Na época, tinha os cabelos mais longos e a pele queimada de sol”.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Os hábitos cuiabanos: o beija mão


Alguns dizem que a região de Cuiabá sempre fora afastada do centro do País, política e culturalmente, dos tempos da corte no Rio de Janeiro até os anos recentes de Brasília, e, portanto, sendo o distanciamento da dinâmica dos outros centros o motivo da conservação do respeito religioso e do modo de falar, com o uso de palavras do português arcaico ou o velho chiado com ares de castelhano. É claro que modernamente a influência maior é das coisas do eixo Rio – São Paulo. 

Mui provavelmente os jovens torcerão pelo Corinthians, e times paulistas, e os mais velhos pelo Flamengo, e demais times fluminenses. Como se sabe, Cuiabá foi ligada ao mundo através do Rio de Janeiro, via navegação pelo rio Paraguai, bem mais rápida, tranqüila e segura, que os meses em lombo de burro ou carro de boi até seus fundadores paulistas, em Sorocaba, ou São Paulo. E depois, era para o Rio que a elite cuiabana mandava seus filhos estudantes, que voltavam modernosos, com o velho chiado com ares de castelhano e o amor ao time do Flamego. Aos cuiabanos mais pobres restou algo como cuiabanês sotaque “vôte-o-que-qué-esse”, as escolas públicas, o Clube Operário e o time do Mixto. Além do curioso hábito doméstico do beija-mão.

Algumas famílias cuiabanas cultivam o antiqüíssimo hábito nas suas crianças, e mesmo adultos, de postarem as mãos, como em oração à Nossa Senhora,para pedirem benção aos mais velhos da casa. Curiosamente, os cuiabanos duram muito, sendo que seus velhos costumam ultrapassar mais de cem anos, e seria crime de lesa-respeitabilidade familiar se os pequerruchos também não postassem suas mãozinhas como em oração pedindo “bença” aos velhinhos, que, rigorosos alguns, ainda exigem que também lhes beijem as mãos, como mandavam os antigos padres de batinas pretas, ou mandavam a antiga tradição portuguesa exercida gostosamente por D. João VI.

Eis que, após o histórico ano de 1808, a envelhecida jovem monarquia portuguesa transplanta para a ávida e inocente Rio de Janeiro a antiga e esquecida tradição medieval do ritual do beija a mão.  Segundo o Wikipédia, o rei D. João VI recebia seus súditos, em torno de 150, nobres ou plebeus, ricos ou pobres, cultos ou ignaros, todas as noites, exceto domingos e feriados, para que lhe beijassem a mão no ritual de se ajoelhar, beijar a mão estendida, se dobrar em genuflexão e se retirar pela direita, sendo, é claro, que alguns aproveitavam para solicitar alguma mercê real. A cerimônia também era do agrado do povo, possuindo grande impacto psicológico pois “tinha grande significado simbólico, lembrando o papel paternal e protetor do rei, invocava o respeito pela monarquia a submissão dos súditos”.

Em Cuiabá uma das últimas lembranças do ritual público se dava feericamente com as gentes da região que formavam filas para beijar a mão do Bispo Dom Aquino Correia, uma espécie de pop-star cuiabano dos anos 20 aos 50. É claro, beijar a mão de padres era sinal de respeito à Igreja, e aos homens-santos, imagina a mão de um bispo, e muito mais a de D. Aquino.

Pois não é que, a coisa de setenta anos, e ainda gravada na memória tupiniquim, um nobre representante da elite brasileira, engenheiro, escritor, membro da ABL, ex-ministro das relações exteriores, ex-muitas-coisas-públicas, tendo sido um dos fundadores da UDN, chamado Otávio Mangabeira, se encantou com a visita ao Congresso Nacional, ainda no Rio de Janeiro, do general Dwight D. Eisenhower, o comandante do “Dia D”. De tal modo emocionado com o atlético brancão anglo-saxão que o moreno gorducho deputado federal representante do povo brasileiro subiu na tribuna para discursar um “general Eisenhower, os democratas do mundo inteiro, agradecidos, beijam as suas mãos”. E beijou!

sábado, 11 de agosto de 2012

Os bons cuiabanos: Luiz Soares

Luiz Antônio Vitório Soares é um candidato a vereador cuiabano pelo DEM nas eleições de 2012. Dentre todos os cartazes dos candidatos espalhados pelos canteiros principais das avenidas da Capital, o de Luiz Antônio é o mais chamativo simplesmente pela má qualidade da foto, mera ampliação de outra, destacando um envelhecimento precoce e, principalmente pelo olhar ensimesmado, ao longe, como se puxasse pela memória um tempo perdido, ou pensasse na morte da bezerra. 

Mas Luiz Antônio não é um candidato qualquer e sim um dos políticos mais importantes de Mato Grosso. Para alguns metidos a íntimo, é o “Luiz Cabeção”, mas para todos os demais apenas o grande Luiz Soares, filho de outro político relevante, chamado Oscar Soares. 

Aos vinte e poucos anos se elegeu deputado estadual pelo MDB, e mais duas vezes pelo PMDB. Acabou fundando o PSDB e indo ao sacrifício na disputa ao governo em 1990, quando perdeu para o candidato do PFL, atual DEM. O que poderia ser espantoso, como alguém do MDB, ex-MR-8, estar militando com os “irmãos Campos”, do DEM, ex-Arena, é explicado pela tendência histórica das composições por amizade, e não por princípios ideológicos em Cuiabá. 

Por exemplo, Luiz Soares saiu do PSDB, mero caco do que fora com Dante de Oliveira, devido a briga com o atual “dono”, ou nome forte do partido, Guilherme Maluf, e parou no DEM porque seu amigo, Roberto França lá estava, e este, anteriormente também saiu do PSDB por ter brigado com o antigo “dono”, Dante de Oliveira, porque este, ao invés de apoiar a sua certeira reeleição a prefeito preferiu bancar o nome de um amigo de infância. Dizem que a briga Dante de Oliveira e Roberto França foi o início da derrocada do PSDB em MT.

Enfim, o que resta é recomeçar. Ainda que melancolicamente, e descontextualizadamente, posto que o que chama a atenção no “santinho” de Luiz Soares é o olhar perdido à la Che, na foto mais reproduzida do mundo e que nas palavras do fotográfo Alberto Korda “Guevara demonstrava imobilidade absoluta, raiva e dor” e quiçá “firmeza de caráter, estoicismo e determinação”. Curiosamente, Luiz Soares, ex-MR-8, inspirado em Che Guevara, deixou de sorrir à la Senhor Burns, como José Serra, e posa para fotos com jornalistas como Che.  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Os Direitos Humanos: Maria do Rosário


“Gente, o cara aqui tá dizendo que está ameaçado de morte!? O que eu posso fazer, gente? Agora se ele morrer eu vou me sentir culpada o resto da vida”, lamentava a jovem senhora ao ouvir o relato de um matuto que se esforça para transformar terras devolutas na região do Araguaia em área de proteção federal. Por acaso, a agoniada senhora é Maria do Rosário Nunes, Ministra-Chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. 

A ministra viera à Cuiabá para o encontro com as lideranças sociais e, também para receber das mãos do governador uma medalha de honra ao mérito. Acabou se emocionando com a homenagem, com os rapapés e salamaleques, e chegou escoltada por dezenas de batedores ao encontro para “ouvir as demandas da sociedade civil”. Avisou que teria apenas uma hora para ouvi-los porque havia outro compromisso oficial da “Caravana dos Direitos Humanos”.

As “demandas da sociedade civil” eram muitas. Infelizmente a ministra desconhecia a base dos problemas de Mato Grosso, a posse da terra. O assunto GLBT lhe era familiar, violência contra mulher também. Mas violência no campo, em Mato Grosso, não conhecia não. Desconhecia o assunto Maraiwatsede, ou conflito entre posseiros e índios xavantes de Barra do Garças, ou os “Retireiros do Araguaia” da região de Luciara, da qual faz parte o “cara ameaçado de morte”.

Curiosamente, veio afiada no assunto “Tony Bernardo”, na qual o universitário africano, que abandonara os estudos, se viciara em drogas, e acabara morto a pontapés, acabou tendo seus algozes livres pela justiça, motivo pela qual militantes sociais cuiabanos levaram o caso à tribunais internacionais, e isso afeta o governo de Mato Grosso. 

O matuto ameaçado de morte percorreu 1,2mil km para levar o seu problema a uma autoridade federal e saiu constrangido por ter ferido as suscetibilidades da ministra. “Queria aporrinhar a mulher não, queria que ela falasse pro governador, seu amigo, dono de terras, homem muito rico, que olhasse por nós no Araguaia”. Menos compungido e mais irritado ficou um dos líderes do MST ao relatar o conflito na região de Sorriso devido ao que considera inépcia do INCRA.

É claro que a ministra desconhecia os conflitos do MST em MT, e o governador tão pouco lhe diria que há poucos dias sua polícia fez bobagem ao desapropriar moradores urbanos, derrubando barracos e os golpeando com balas de borracha. Mas o que o líder do MST queria além do apoio moral era o intermédio dela com outras autoridades, inclusive com o próprio governador de Mato Grosso. O que o MST não teve foi apoio da ministra Maria do Rosário.

Ao invés de solidariedade ou comprometimento a ministra provocou o MST a apresentar outro modelo econômico que não o capitalismo à brasileira. Praticamente a ministra mandou o MST pegar em armas e colocar de pé o projeto socialista made in Cuba. Irritado, o líder do movimento social, por acaso, monitorado pela ABIN e outros grupos de Inteligência, disse que não brigava por modelo econômico simplesmente porque o MST apoiou Lula e apoia Dilma. 

Findo o tempo da ministra, que se dispôs a ouvir as “demandas da sociedade civil”, saiu para ir até a Praça Alencastro, onde se reencontraria com o staff do governador, porque, como se sabe “a praça é do povo, como o céu é do condor”.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Osvaldão

 Criar um, dois, três... muitos Vietnãs” era a idéia do comunista Che de combate armado contra o avassalador poder de fogo capitalista encabeçado pelos EUA. A teoria apontava que ao criar núcleos guerrilheiros nas áreas rurais mais afastadas dos centros urbanos seria questão de tempo até que a estrutura dominante desmoronasse, de La Paz até Washington. 

É claro que Che também estava emputecido com todos os comunistas, que eram solidários, em palavras, ao povo do Vietnã, mas nada de prático faziam, e, quem poderia fazer algo, como a União Soviética acabava vendendo material bélico a preço do mercado mundial, igual aos países capitalistas. Che tinha moral para puxar as orelhas dos “comunas”.

No Brasil, o PC do B atendeu ao chamado dos “muitos Vietnãs”, e em 1965 mandou para Mato Grosso, quatro dos seus militantes, o afamado Osvaldo Orlando da Costa, o “Osvaldão”, os recém-casados Gilberto Olímpio Maria e Victoria Grabois e Paulo Rodrigues, onde deveriam formar a “Guerrilha de Guiratinga”. Os jovens tentaram organizar a resistência à Ditadura, mas saíram da região em 1966 ao serem descobertos prematuramente pela Ditadura. No mesmo ano se reuniram a dezenas de outros militantes na chamada “Guerrilha do Araguaia”.  

Em 1973 Gilberto e Paulo foram mortos juntos a outros militantes do PC do B em Conceição do Araguaia. Osvaldão foi morto em 1974. Mais de sessenta guerrilheiros foram mortos, quase todos executados após a captura. Má sina a do Exército Brasileiro, do início nas capturas de negros foragidos, como famigerados capitães do mato, a verdugos fardados com a Verde Oliva.

O Exército precisou de cinco mil soldados e oitos meses na sua terceira e última investida para destroçar a guerrilha. A terceira campanha contou com a preparação da inteligência comandada pelo major Sebastião Rodrigues de Moura, agente do SNI, de codinome “Curió”. O major Curió se embrenhou no mato, levantou a situação dos guerrilheiros, e, principalmente, convenceu os lavradores (chamados de campesinos pelo PC do B) a serem mateiros, ou bate-paus do Exército, em troca, teriam terra às margens das estradas que mandou abrir, a OP-1, OP-2 e OP-3.

E quem matou o lendário “Osvaldão” foi um lavrador conhecido como Arlindo, ou “Piauí”, a quem conhecia, por que era amigo da família. Um tiro pelas costas e “Osvaldão” estrebuchou. 

Osvaldo Orlando da Costa era oficial da reserva, engenheiro, negro, como o mais retinto dos negros, e fazia sucesso entre as européias, pela beleza exótica, também por ser educado, galante, forte como um boxeador, mesmo porque fora campeão de boxe. O jovem “Osvaldão” poderia estar num conforto burguês, mas seria apenas um negro da casa-grande, e ele era negro da senzala. “Osvaldão” tinha muito do Che.

O tiro do “Piauí” pegou “Osvaldão” sobre a costela, abaixo da omoplata, e o negro caiu ao chão, com o pulmão arrebentado, os olhos cegos, mas arregalados, sangue golfando pelas narinas, e a boca buscando ar e emitindo sons absurdos e desesperadores. A morte chegara até o jovem guerrilheiro. A poucos metros “Piauí” esperava, com medo de que se levantasse o negro de 2 metros de altura, tido na região como invencível. Logo chegou um sargento e descarregou sua metralhadora. Depois veio “Pé-na-cova” e cortou a cabeça de “Osvaldão”. 

O pistoleiro “Pé-na-cova” fora recrutado pelo major Curió na região e o instalou, junto a outros bate-paus, como agricultor na estrada primária denominada OP-3. Alguns anos depois Curió o mandou para o garimpo da Serra Pelada, primeiro como olheiro e depois como guarda-costas. De fato, a Ditadura doou o lote de terras a “Piauí”, mas ele o abandonou porque não tinha dinheiro para escriturá-lo, e, também, porque fora ameaçado por outros lavradores. Morreu.

Em 2001 o juiz federal de Cuiabá Jefferson Schneider, respondendo por Marabá, PA, autorizou o MPF a buscar documentos na 23ª Brigada de Infantaria da Selva por que seu serviço de inteligência corria com historiadores e jornalistas interessados na guerrilha exterminada em 1974. Mesmo após a Ditadura a inteligência militar continuava na diretriz da “guerra interna”, ou seja, focando tão somente os movimentos sociais e, desde o PC do B, o perigo maior é o MST.


As boas safadezas cuiabanas: cilada com chave de perna


O tiozinho se esforçava atrás da gostosa, na posição cachorrinho. Ele arfava, e não reconhecia seu rosto nos espelhos, mas a barriga saliente, e a bunda chulada lhe eram constrangedoramente familiares, então desviava os olhos para as ancas da moça, e se deliciava a cada arremetida que provocavam ondas na bunda roliça e balançavam os peitos enormes. Ela soltava gemidinhos, algo como “arf, arf, arf”. Tão bonitinha. Após o gozo se deitou ao lado da moça, que se desvencilhou e ficou de ladinho, já brincando com o celular. Danadinha. 

Era a sexta vez que saiam juntos, ou melhor, quinta, pois uma vez ela mandou uma amiga. Até pensou num ménage, uma safadeza de menino desde as revistinhas do Carlos Zéfiro e dos Catecismos Carrera. É claro, aquela lindeza de moça era garota de programa. E nunca cobrou programa algum, tudo de grátis, como gratidão, pensava o tiozinho, um safadinho, mas um cavalheiro. Lembrou-se de cinco semanas atrás.

Ia pela Avenida Miguel Sutil para casa no bairro Santa Rosa, e como sempre, o trânsito estava pesado, e parou de vez sob o viaduto da rodoviária porque de um carro adiante saltou esbravejando uma moça loira, do outro lado um rapaz moreno a mandava entrar. Ela correu para o carro do tiozinho, gesticulando, entrou, e pediu chorando que a tirasse dali. Eles foram embora, para lugar algum, em direção a Avenida da FEB. 

A moça usava maquiagem pesada, azul ao redor dos olhos, e os longos cabelos caíam sobre a blusinha colada que mal continham os peitos enormes. Era garota de programa e tinha brigado com o cafetão. Ela falava e falava, e ele pouco prestava atenção, pensava se era siliconada ou tinha os peitos naturais, concluiu que eram silicones porque os peitos não provocavam as deliciosas ondinhas gelatinosas. Ela lhe pediu o número do celular e ele deu, conversaram, ficou mais calma, e ele a levou para casa, um prédio no bairro Goiabeiras.

A garota bonita e gostosa ligou na semana seguinte, disse que não estava fazendo programas desde a briga e que queira sair para espairecer. O tiozinho foi até o prédio e ela já esperava, usando uma blusinha branca que mostravam o quanto era avantajada e um short curtinho que mostrava que a bunda era um colosso. E equilibrando tudo, um sapato de salto alto, muito alto. Ele perguntou aonde queria ir, e ela disse um chope, passear no shopping, algo assim. Ele perguntou sobre motel, e, para sua satisfação ela topou.

Iriam para o sétimo encontro amoroso. Marcou, picou a mula pro motel, e a esperava do jeito que ela gostava, nu, com todas as luzes acessas e mostrando que estava feliz em vê-la com a estrovenga tesa. Um amorzinho a garota. Ela chegou logo e estava um arraso, a coisa toda prometia. 

Então ela jogou sobre a cama 30 fotos, falou algo como R$1mil por unidade. O tiozinho parecia bobo e pouco entendeu do “achou que era de graça? você sabe que sou garota de programa, que cobro por momento, e comigo é caro”. Ela saiu, e disse que pegaria o dinheiro no dia seguinte. O tiozinho ficou congelado no tempo. Olhou para as fotos, e era ele, a bunda murcha, o barrigão, as mamas de velha, a boca dele no dedão dela, o dedo dela no fiofó dele, se arrepiou de vergonha por que a anarquia estava toda registrada.

Entregou quase R$10mil a ex-amiga-amante-gostosa, mulher falsa, dos cabelos alisados e coloridos à força, dos peitos falsos, da bunda cheia de furinhos... ô bunda boa... a mulher era boa mesmo, não podia negar. Então reparou que ela nem entrava no prédio e reconheceu o carro do cafetão estacionado próximo. Ela ficou brava, queria todo o dinheiro, mas aceitou esperar quinze dias para receber os R$20mil. 

Alguns dias depois, fortuitamente, avistou a loira saindo do supermercado Modelo, da Ponte Nova, e a seguiu até entrar numa rua diferente das características ruas estreitas do bairro Cidade Verde. No sábado a esperou por horas no supermercado até vê-la entrar com um garotinho. Enquanto ela parava na seção de bebidas, o garotinho foi para outro lado. O tiozinho conversou com o menino, que educadamente respondia tudo, e disse que era amigo da sua mãe e que o levaria onde ela estava. A loira avistou o tiozinho e ficou sem reação, sem cara de zanga, de simpatia, nada, apenas recebeu das mãos dele o seu filhinho e o recado “cuide bem dele, é um belo garoto, e não o perca de vista, nunca o perca de vista, ouviu bem?”.

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